“Quanto maior a sensibilidade, maior o martírio – um grande martírio”.
Leonardo Da Vinci
Podemos entender
essa frase como uma bela metáfora para contradição. Apreender
este conceito é compreender a essência de que opostos mantém sentidos em sua
relação mútua.
O filósofo francês Jacques Derrida a definiu como “nada
pode ser e não ser ao mesmo tempo”. Entretanto
em seus escritos filosóficos encontramos reflexões acerca da desconstrução aliada
à contradição que, ao compreendermos essa dinâmica, estamos desvelando os
reflexos conceituais, as seqüências e associações de idéias que precedem e
condicionam os pensamentos, operando como o inconsciente que fala “apesar
de”.
No texto de Washington Lessa, quando ele escreve sobre a contraposição dos ideais modernistas de unidade, clareza, simplicidade e harmonia as
categorias de riqueza, ambigüidade, contradição e redundância, lemos: “é importante
destacar que essas iniciativas se colocam como movimentos-manifestos,
similares, de certo modo, aos movimentos artísticos de vanguarda. E, ao mesmo
tempo, isto vem abrir espaço para o desenvolvimento de poéticas autorais
particulares, voltadas para questionamentos próprios da prática artística”.
Diante dessa
afirmação, podemos pensar a contradição como conceito que produz sentidos
bastante flexíveis e ágeis na sua capacidade de articular referências culturais
variadas, resultando em obras inventivas e criativas.

No Trenzinho de
Mira Schendel, 1966, a contradição pode ser observada entre a delicadeza
estética e a força da mensagem ou entre a leveza do papel e o peso físico de um
trem. Segundo a historiadora da arte
Maria Eduarda Marques, as séries de trabalhos de Mira, nas quais surgiu esta
obra, representam uma intenção desmistificadora diante do mercado e da
institucionalização da arte. São trabalhos que descritos nas palavras da
própria artista, estão em oposição ao permanente e ao possível.

Segundo o crítico
de arte Octávio Paz, na obra A Roda de Bicicleta de Marcel Duchamp, 1913, a
contradição surge como essência do ato
- “é o equivalente plástico do jogo das palavras: este destrói o
significado, aquele a idéia de valor.” Gratuitamente o gesto do artista criava
a obra de arte e, ao mesmo tempo, desfazia esta noção.
É curioso notar que se
levarmos em conta a origem da palavra arte -"ars" técnica ou habilidade -, é contraditório quando
artistas não usam suas aptidões técnicas para expressarem suas idéias. Mesmo as
possuindo eles preferem discutir outras questões, provocar outras reflexões.